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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Por que Jesus nasceu numa manjedoura?


A. W. Pink

E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.” (Lucas 2.7).

Lucas é o único dos quatro evangelistas que nos conta isto — um tocante ponto de interesse com respeito a Sua humanidade, e que é digno de nossa reverente contemplação. Por que teria o Pai tolerado que o Seu bendito Filho nascesse numa estrebaria? Por que foram os animais do campo a Sua primeira companhia? Que lições espirituais podemos aprender do fato de Ele ter sido colocado numa manjedoura? São perguntas importantes, que exigem uma resposta desdobrada em, pelo menos, sete partes.


(a) Ele foi posto na manjedoura porque não havia lugar na hospedaria. Quão solenemente isso revela a avaliação que o mundo faz do Cristo de Deus. Não houve consideração para com a Sua maravilhosa complacência. Ele não foi desejado. E assim permanece até hoje. Não há lugar para Ele nas escolas, na sociedade, no mundo dos negócios, entre a grande multidão dos que buscam seus próprios prazeres, no âmbito político, nos jornais, nem mesmo em muitas das igrejas. É uma mera repetição da história. Tudo o que o mundo deu ao Salvador foi um estábulo como berço, uma cruz para morrer, e um túmulo emprestado para receber Seu corpo sem vida.

(b) Ele foi posto numa manjedoura para demonstrar o tamanho da Sua pobreza. “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2 Coríntios 8.9). O quão pobre Ele Se tornou ficou, dessa forma, manifesto logo no início. Aquele que, mais tarde, não tinha onde reclinar a cabeça, que teve de pedir uma moeda quando quis responder a Seus críticos sobre a questão do tributo, e que teve de usar a casa de um amigo quando instituiu a Santa Ceia, era por aqui, desde o começo, um estrangeiro sem-teto. E a manjedoura foi a evidência inicial disso.

(c) Ele foi posto numa manjedoura para tornar-Se acessível a todos e a qualquer um. Se fosse colocado num palácio, ou nalguma sala do Templo, poucos teriam conseguido chegar a Ele sem a formalidade de primeiro obter permissão daqueles que estivessem trabalhando nesses lugares. Mas ninguém teria dificuldade nenhuma de chegar a um estábulo; ali Ele estaria facilmente ao alcance tanto de pobres como de ricos igualmente. Dessa forma, desde o início, era fácil aproximar-se dEle. Não era preciso passar por algum intermediário antes de chegar a Ele. Não havia necessidade de consultar algum sacerdote antes de conseguir acesso à Sua presença. Assim era naquele tempo; e assim é, também, agora, graças a Deus.

(d) Ele foi posto numa manjedoura como para prefigurar o caráter daqueles entre os quais Ele veio. O estábulo era o lugar dos animais do campo, e foi no meio deles que o recém-nascido Salvador chegou. E quão bem eles simbolizam o caráter moral dos homens! Os animais do campo estão destituídos de qualquer vida espiritual, e em decorrência disso não possuem conhecimento de Deus. Essa era, também, a condição tanto dos judeus como dos gentios. E como eram semelhantes aos animais (moralmente falando) aqueles em cujo meio Se manifestou o Salvador: estúpidos e teimosos como o jumento e a mula; astutos e cruéis como a raposa; baixos e imundos como porcos; e sempre sedentos do Seu sangue, como os mais selvagens dos animais. Adequadamente, então, foi Ele posto entre os animais do campo por ocasião do Seu nascimento.

(e) Ele foi posto numa manjedoura para mostrar o Seu descaso pela pompa e riquezas deste mundo. Pensamos que talvez fosse mais apropriado para o Cristo de Deus nascer num palácio, e ser colocado num berço de ouro, forrado de seda fina e cara. Ah, mas como Ele mesmo nos relembra neste mesmo Evangelho, “aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus” (Lucas 16.15). E que exemplo dessa verdade nos foi dado, quando o menino Salvador foi posto não num berço de ouro, mas numa humilde manjedoura!

(f) Ele foi posto numa manjedoura para indicar a Sua identificação com o sofrimento e a miséria humana. Aquele que nasceu era o Filho do Homem. Ele havia deixado as alturas da glória celestial e desceu ao nosso nível, e aqui O vemos identificando-Se com a sorte humana em sua mais baixa condição. Adão foi colocado num jardim, cercado da extraordinária beleza da Natureza exatamente como ela havia saído das mãos do Criador. Mas entrou o pecado, e com ele todas as suas tristes conseqüências de sofrimento e miséria. Por essa razão, Aquele que desceu até nós a fim de recobrar e restaurar aquilo que o primeiro homem perdera, surge primeiro num ambiente que fala de necessidades abjetas e de miséria; exatamente como pouco depois nós O encontramos descendo ao Egito, para que Deus pudesse chamar o Seu Filho do mesmo lugar onde Seu povo Israel começou sua história como nação em sofrimento e miséria. É dessa forma que o Homem de Dores Se identifica com o sofrimento humano.

(g) Ele foi posto numa manjedoura porque esse era o lugar de sacrifício. A manjedoura era o lugar onde a vida vegetal era sacrificada para sustentar a vida animal. Lugar apropriado esse, então, para Aquele que chegaria a ser o grande sacrifício, depondo a própria vida em favor do Seu povo, para que nós, mediante a Sua morte, fôssemos vivificados.

Notavelmente sugestivo, então, e cheio de significado simbólico, foi o lugar indicado por Deus para receber o recém-nascido corpo do Salvador encarnado.

Arthur Walkington Pink (01/04/1886 - 15/07/1952) foi um cristão inglês, evangelista e estudioso das Escrituras, conhecido por seus ensinamentos calvinistas e puritanos.
Pink foi membro da sociedade teosófica (um grupo gnóstico ocultista) e rapidamente alcançou os graus mais altos de sua hierarquia, e converteu-se após paciente admoestação de seus pais através das Escrituras.
Desejando crescer no conhecimento das Escrituras, Pink foi para os Estados Unidos estudar no Instituto Bíblico Moody. Em 1916, casou-se com Vera E. Russel. Pastoreou igrejas na Califórnia, na Inglaterra, na Austrália, no Colorado, Kentucky e Carolina do Sul.
Em 1922, Pink começou a publicar uma revista mensal, Studies in Scriptures (Estudos nas Escrituras), que circulava entre os cristãos de língua inglesa ao redor do mundo; porém, a revista era de pouca tiragem, em volta de mil exemplares.
Em 1934, Pink retornou à Inglaterra e dedicou-se depois de alguns anos a escrever livros e panfletos. Faleceu de anemia, em Stornoway, Escócia, em 1952.


Veja também: Jesus nasceu por amar você.

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