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sábado, 29 de janeiro de 2011

Por que Quatro Evangelhos?

Por Arthur Walkington Pink

Por que quatro Evangelhos? Parece estranho que uma questão como esta deva ser perguntada atualmente. O Novo Testamento tem permanecido nas mãos do Povo de Deus por quase dois mil anos e, ainda assim, comparativamente poucos parecem compreender as características e mensagem de seus primeiros quatro livros. Nenhuma parte das Escrituras tem sido estudada tão vastamente como foram os quatro Evangelhos: sermões inumeráveis foram pregados a partir deles, e as divisões, de dois ou três anos, de cada um dos Evangelhos é escolhida como assunto para estudo de nossas Escolas Dominicais. No entanto, o fato permanece – que os estilos e características particulares de Mateus, Marcos, Lucas e João são raramente percebidos mesmo por aqueles mais familiares com seus conteúdos.



Por que quatro Evangelhos? Não parece que passou pelas cabeças de muitos fazer uma questão como esta. Que nós temos quatro Evangelhos cujo assunto é o ministério terreno de Cristo, isto é universalmente aceito; porém, questões como por que temos eles, como no que eles se diferem tanto quanto à forma de ensinar, sobre suas características peculiares, sobre suas belezas distintas – estas são menos detectadas e menos ainda apreciadas. É verdade que cada um dos quatro Evangelhos tem muito em comum no geral: todos eles lidam com o mesmo período da história, cada um registra os ensinamentos e milagres do Salvador, cada um descreve Sua morte e ressurreição. Mas, enquanto os quatro evangelistas têm muito em comum, eles também têm suas próprias peculiaridades, e é notando suas variações que somos levados a ver seus verdadeiros significados e estilos, e apreciar suas perfeições.

[...]

Se então os Evangelhos não são biografias completas de Cristo, o que eles são? A primeira resposta deve ser: quatro livros inspirados, totalmente inspirados por Deus; quatro livros escritos por homens movidos pelo Espírito Santo; livros que são verdadeiros, infalíveis, perfeitos. A segunda resposta é que os quatro Evangelhos são muitos livros, cada um completo em si mesmo, cada um escrito com um propósito distinto, e que o que está contido em suas páginas, e tudo que foi deixado fora, é estritamente subordinado a este propósito, de acordo com um princípio de escolha. Em outras palavras, nada será encontrado em algum dos Evangelhos, salvo o que for estritamente relevante e pertinente a seu tema e assunto peculiar, e tudo o que for irrelevante e não funcionou para ilustrar e exemplificar seu tema foi excluído. O mesmo plano de escolha é notado em todos os trechos das Sagradas Escrituras.

[…]

Também é assim com os quatro Evangelhos: cada um dos evangelistas foi guiado pelo Espírito a registrar somente o que servia para descrever Cristo nas características particulares em que Ele devia ser visto, e o que não tinha relação com a característica particular foi deixado fora. O que queremos dizer se tornará mais claro enquanto o leitor prossegue.

Por que quatro Evangelhos? Porque um ou dois não era suficientes para dar uma perfeita apresentação das variadas glórias de nosso bendito Senhor. Assim como nenhum dos tipos de Cristo no Antigo Testamento (como exemplo, Isaque ou José, Moisés ou Davi) nos dá um exaustivo presságio de nosso Senhor, nenhum dos quatro Evangelhos apresenta um retrato completo das múltiplas excelências de Cristo. Assim como nem um ou dois dos grandes sacrifícios ensinados por Deus para Israel (cf. Lv 1-6) poderia, por si mesmo, representar o multifacetado sacrifício de Cristo, também apenas um ou dois dos Evangelhos não pode, por si mesmo, apresentar completamente a variedade de interações que o Senhor Jesus teve enquanto esteve aqui na Terra. Em uma palavra, os quatro Evangelhos apresentam-nos Cristo ao completarem quatro divisões distintas.

[...]

Os quatro Evangelhos igualmente apresentam-nos a pessoa e obra de nosso bendito Salvador, mas cada um o vê de uma maneira distinta; e somente o que serviu para ilustrar o desígnio específico que cada evangelista teve encontra lugar em seu Evangelho; tudo o que não era estritamente pertinente a este propósito imediato foi omitido. Para tornar a ideia ainda mais simples, usaremos uma ilustração. Suponha que hoje quatro homens receberam o trabalho de escrever a “vida” do ex-presidente Roosevelt, e que cada um precisou apresentá-lo como um diferente personagem. Suponha que o primeiro deva tratar de sua vida privada e doméstica, o segundo lida com o ex-presidente como um esportista e caçador de animais, o terceiro descreve seu talento militar, e o quatro traça sua carreira política e presidencial. Então, perceberemos que, enquanto estas quatro biografias descrevem a vida do mesmo homem, entretanto, o veem de quatro maneiras inteiramente diferentes. Portanto, estará evidente que cada um destes biógrafos foi regido para a seleção de seu material com base na proposta particular que cada um tinha quanto a isto: cada um incluiria apenas o que era pertinente aos seu específico ponto de vista, e pela mesma razão eles omitiriam o que fosse irrelevante. Por exemplo, suponha que, se fosse descoberto que o Sr. Rooseevelt, quando criança, era um excelente atleta e ginasta, qual dos seus biógrafos mencionaria este fato? Obviamente, o segundo, que está descrevendo-lo como um atleta. Suponha que, quando criança, o ex-presidente Roosevelt frequentemente estava engajado em combates físicos, quem mencionaria isto? Evidentemente, aquele que está descrevendo sua carreira militar, pois serviria para ilustrar suas qualidades de combate. Novamente, imagine que o Sr. Roosevelt apresentou grande talento para debates quando aluno do colegial. Que biógrafo faria referência a isso? O quarto, que está tratando de sua vida política e presidencial. Finalmente, suponha que desde sua juventude, Sr. Roosevelt manifestou uma afeição marcante por crianças, qual dos seus biógrafos iria mencionar isto? O primeiro, pois ele está tratando da vida privada e doméstica do ex-presidente.

O exemplo acima deve servir para ilustrar o que acontece nos quatro Evangelhos.
Em Mateus, Cristo é apresentado como o Filho de Davi, o Rei dos judeus, e tudo em suas narrativas giram em torno dessa verdade. Isso explica porque o primeiro Evangelho começa com a apresentação da genealogia real de Cristo, e porque no segundo capítulo se faz menção da viagem dos sábios do Oriente, que chegaram a Jerusalém perguntando “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus?”, e porque nos capítulos cinco, seis e sete temos aquilo que é conhecido como “O Sermão do Monte”, mas que é, na realidade, o Manifesto do Rei, contendo uma enunciação das leis do Seu reino.

Em Marcos, temos a figura de Cristo como o Servo de Jeová, Aquele que, embora fosse igual a Deus, Se humilhou e “assumiu a forma de Servo”. Tudo neste segundo Evangelho contribui com esse tema central, e tudo aquilo que é estranho ao tema é terminantemente excluído. Isso explica por que não há genealogia em Marcos, por que Cristo é apresentado já no começo do Seu ministério público (não se diz absolutamente nada de Sua vida antes disso), e por que há mais milagres (obras de serviço) detalhados aqui do que em qualquer outro dos Evangelhos.

Em Lucas, Cristo é apresentado como o Filho do Homem, aparentado com os filhos dos homens, mas distinto deles; e tudo na narrativa ajuda a evidenciar esse fato.
Isso esclarece a razão por que o terceiro Evangelho aponta a Sua genealogia até Adão, o primeiro homem (em vez de restringir-se a Abraão, como faz Mateus); por que razão Ele, como o Homem perfeito que é, tantas vezes é visto aqui em oração, e por que se veem os anjos ministrando a Ele, em vez de receberem ordens dEle, como vemos em Mateus.

Em João, Cristo é revelado como o Filho de Deus, e tudo neste quarto Evangelho se presta a esclarecer e a demonstrar esse relacionamento divino. Isso explica por que no primeiro versículo somos conduzidos à ocasião antes que existisse o tempo, e nos é mostrado Cristo como a Palavra “no princípio”, com Deus, e se declara expressamente que Ele é Deus; por que encontramos aqui tantos dos Seus títulos divinos, como “O Unigênito do Pai”, o “Cordeiro de Deus”, a “Luz do mundo” etc.; por que nos é dito aqui que a oração deve ser feita em nome dEle, e por que se diz que o Espírito Santo será enviado tanto pelo Filho como pelo Pai.

É digno de nota que há indícios dessa quádrupla apresentação de Cristo pelos Evangelhos nos profetas do Antigo Testamento. De forma distinta, entre as inúmeras profecias do Antigo Testamento, estão aquelas que, ao falar do Messias que está para vir, usam o título “o Renovo”. Desses nós vamos selecionar quatro que correspondem com exatidão à forma pela qual o Senhor Jesus é visto em cada um dos quatro Evangelhos:
Em Jeremias 23.5, lemos: “Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra”. Estas palavras se ajustam como uma luva ao primeiro Evangelho.
Em Zacarias 3.8, lemos: “eis que eu farei vir o meu servo, o Renovo”. Estas palavras bem que poderiam servir de título ao segundo Evangelho.
Em Zacarias 6.12, lemos: “Eis aqui o homem cujo nome é Renovo”. Não é nem preciso explicar como isto corresponde perfeitamente à descrição que Lucas faz de Cristo.
Em Isaías 4.2, lemos: “Naquele dia, o Renovo do SENHOR será de beleza e de glória”. Dessa forma, esta última citação dessas predições Messiânicas, que falam dAquele que “há de vir como “o Renovo”, corresponde com perfeição ao quarto Evangelho, que retrata nosso Salvador como o Filho de Deus.

Mas não é somente a profecia do Antigo Testamento que antecipa as quatro relações que Cristo sustém na terra; os tipos do Antigo Testamento também preanunciam essa quádrupla divisão. Em Gênesis 2.10, lemos: “E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços”. Repare com cuidado as palavras “dali”. No Éden mesmo “o rio” era uno, mas “dali se dividia” e se tornava em quatro braços. Deve haver algum significado mais profundo oculto aqui, pois por que razão dizer quantos braços tem o rio? O mero fato histórico não nos interessa, nem tem valor para nós; e a razão por que o Espírito Santo fez questão de registrar esse detalhe nos induz a olhar além da superfície e procurar algum significado não evidente. E não precisamos andar muito longe para encontrá-lo. O “Éden” nos sugere o Paraíso anteriormente citado em Gênesis: o “rio” que o “regava” nos fala de Cristo, que é a Luz e a Alegria do Céu. Quando interpretamos essas figuras místicas, então, aprendemos que no Céu Cristo é visto com um caráter apenas — “O Senhor da Glória” — mas no ponto exato em que o “rio” sai do Éden ele é repartido e se torna “quatro braços” e dessa forma rega a terra, e assim também o ministério terreno do Senhor Jesus foi, pelo Espírito Santo, “repartido em quatro braços” nos quatro Evangelhos.

Um outro tipo do Antigo Testamento que antecipa a quádrupla divisão do ministério de Cristo conforme está registrada nos quatro Evangelhos pode ser vista em Êxodo 26.31,32: “Farás também um véu de estofo azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino retorcido; com querubins, o farás de obra de artista. Suspendê-lo-ás sobre quatro colunas de madeira de acácia, cobertas de ouro; os seus colchetes serão de ouro, sobre quatro bases de prata”. Em Hebreus 10.19,20, aprendemos que o “véu” prenunciava a Encarnação, Deus manifesto em carne — “pelo véu, isto é, pela sua carne”. É muito significativo que esse “véu” estivesse suspenso sobre “quatro colunas de madeira de acácia, cobertas de ouro”; a madeira fala, novamente, da Sua humanidade, e o ouro da Sua Divindade. Da mesma forma que essas “quatro colunas” tinham a função de mostrar o maravilhoso véu, assim também nos quatro Evangelhos nós vemos a manifestação das virtudes do Unigênito do Pai “tabernaculando” entre os homens.

Ainda em relação ao texto citado acima, podemos observar mais uma coisa — “com querubins, o farás”. Aparentemente, o véu estava ornamentado com o “querubim” bordado nele nas cores azul, púrpura e carmesim. Em Ezequiel 10.15,17ss., os querubins são chamados “seres viventes”: isso nos permite provar a identidade dos “quatro animais” de Apocalipse 4.6, pois o texto grego diz, literalmente, “quatro seres viventes”. Esses “seres viventes” ou “querubins” também são em número de quatro, e, da descrição que deles se faz em Apocalipse 4.7, descobre-se que eles correspondem de forma notável aos diferentes caracteres com que o Senhor Jesus Cristo é apresentado em Mateus, Marcos, Lucas e João.

“O primeiro ser vivente é semelhante a leão, o segundo, semelhante a novilho, o terceiro tem o rosto como de homem, e o quarto ser vivente é semelhante à águia quando está voando” (Apocalipse 4.7). O primeiro querubim, então, é semelhante “a leão”, o que nos lembra de imediato dos nomes usados para Cristo em Apocalipse 5.5: “o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi”. O leão, que é o rei entre os animais é um símbolo bem próprio para retratar Cristo da forma que Ele é apresentado no Evangelho de Mateus.Repare também que o Leão da tribo de Judá é aqui chamado “a Raiz de Davi”. Dessa forma, a descrição feita aqui em Apocalipse 4.7 do primeiro “querubim” corresponde com exatidão ao caráter em que Cristo é apresentado no primeiro Evangelho, ou seja, como “o Filho de Davi”, o “Rei dos judeus”.
O segundo querubim era “semelhante a novilho” ou “bezerro”. O bezerro simboliza, com muita propriedade, Cristo da forma que Ele é apresentado no Evangelho de Marcos, porque, da mesma forma que o boi era o principal animal usado para o serviço em Israel, assim no segundo Evangelho temos Cristo apresentado humildemente como o perfeito “Servo de Jeová”.
O terceiro querubim “tem o rosto como de homem”, o que corresponde ao terceiro Evangelho, onde a humanidade de nosso Senhor está em evidência.
O quarto querubim “é semelhante à águia quando está voando”: como isso é significativo! Os três primeiros — o leão, o novilho, e o homem — pertencem todos à terra, exatamente como cada um dos três primeiros Evangelhos apresentam Cristo em Seus relacionamentos terrenos.
Mas este quarto querubim se eleva acima da terra, e traz a perspectiva dos céus! A águia é a ave que voa mais alto e simboliza o caráter com que Cristo é visto no Evangelho de João, isto é, como o Filho de Deus. Em consequência disso tudo, podemos verificar como essa descrição dos quatro querubins em Apocalipse 4.7 autentica a ordem dos quatro Evangelhos como nós os temos na Bíblia, provando o fato de que a ordem em que atualmente se encontram é providência de Deus — fato confirmado por Apocalipse 4.7!

Veja a sabedoria de Deus ao selecionar os quatro homens que Ele usou para escrever os Evangelhos. Em cada um deles podemos discernir uma peculiar adequação e aptidão para essa tarefa.
O instrumento selecionado por Deus para escrever o primeiro Evangelho foi preparado de forma singular muito antes de executar a tarefa. Mateus é o único dos quatro Evangelistas que apresenta Cristo numa relação oficial, pública, ou seja, como o Messias e Rei de Israel, e Mateus era, ele mesmo, o único dos quatro que ocupava uma posição pública; ele, diferentemente de Lucas, que era médico, ou João que era pescador, era um coletor de impostos a serviço dos romanos. Além disso, Mateus apresenta Cristo em conexão com o reino, como Aquele que tem o atributo de reinar sobre Israel. Quão apropriado, então, que Mateus — empregado de um vasto império, acostumado a ver tudo dessa ótica, que apropriado que fosse ele o escolhido para essa tarefa. Ademais, Mateus era um publicano. Os romanos nomeavam funcionários públicos para a tarefa de coletar impostos dos judeus. Os coletores de impostos eram odiados pelos judeus mais do que os próprios romanos. Mateus era um desses. Quão compreensivamente podia ele, então, escrever a respeito dAquele que foi “odiado sem causa”! e apresentar o Messias Salvador como “desprezado e rejeitado” por Sua própria nação. Finalmente, quando Deus nomeou este homem que, por chamado estava ligado aos romanos, temos uma evidente antecipação da graça de Deus, que estende a mão aos gentios desprezados.

O Evangelho de Marcos nos apresenta o Servo de Jeová, o perfeito trabalhador de Deus. E o instrumento escolhido para escrever este segundo Evangelho parece ter tido uma posição única que o habilitou para sua tarefa. Ele não era um dos apóstolos, mas era servo de um dos apóstolos. Em 2 Timóteo 4.11, encontramos um texto que revela isso de forma clara: “Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério”.
Dessa forma, aquele que escreveu a respeito de nosso Senhor como o Servo de Deus era, ele mesmo, alguém que ministrava aos outros!

O Evangelho de Lucas trata da humanidade de nosso Senhor, e O apresenta como o Filho do Homemrelacionado com os filhos dos homens, mas diferenciado deles. O Evangelho de Lucas é aquele que nos dá o mais completo e detalhado relato do nascimento virginal. O Evangelho de Lucas também revela mais plenamente do que qualquer dos outros o estado caído e depravado da natureza humana. Além disso, o Evangelho de Lucas é muito mais internacional em seu propósito do que os outros três, e é mais gentio do que judeu — temos evidências disso quando começamos a examinar esse Evangelho em detalhe. Veja, agora, quão própria foi a escolha de Lucas para escrever este Evangelho. Quem era ele? Ele não era nem pescador nem coletor de impostos; era “médico” (Colossenses 4.14), e como tal era um estudante da natureza humana e conhecedor da constituição humana. Além disso, há boas razões para crer que Lucas não era judeu, e, sim, gentio, sendo por isso particularmente apropriado que apresentasse Cristo não como “o Filho de Davi”, mas como “o Filho do Homem”.

O Evangelho de João apresenta Cristo no mais sublime caráter de todos, revelando-O em Seu relacionamento divino, mostrando que Ele era o Filho de Deus. Essa tarefa requeria um homem de profunda espiritualidade, alguém que se relacionasse intimamente com nosso Senhor, de forma especial, alguém agraciado com incomum discernimento espiritual. E certamente João, que estava mais perto do Salvador do que qualquer outro dos doze, com certeza João, “o discípulo a quem Jesus amava”, foi muito bem escolhido. Quão apropriado que aquele que se inclinou no peito de Jesus fosse o instrumento para retratar Cristo como o “O Filho unigênito, que está no seio do Pai”!

Dessa forma, vemos e admiramos a multiforme sabedoria de Deus em equipar os quatro “Evangelistas” para o seu honroso trabalho.

Antes de concluir esta Introdução, gostaríamos de voltar mais uma vez à nossa questão inicial: Por que quatro Evangelhos? Desta vez, devemos dar ênfase diferente a essa pergunta. Até aqui, consideramos “Por que quatro Evangelhos?” e vimos que a resposta é: Para apresentar a pessoa de Cristo sob quatro aspectos diferentes. Mas agora nossa pergunta é: Por que quatro Evangelhos? Por que não reduzi-los a dois ou três?
Ou, por que não adicionar um quinto Evangelho? Por que quatro? Deus tem uma sábia razão para tudo, e convém que nos asseguremos de que é determinação de Deus o número de Evangelhos que temos.

Ao procurar responder a pergunta “Por que quatro Evangelhos?”, não somos deixados à mercê das incertezas da imaginação e das especulações. A Escritura é sua própria intérprete. Um estudo da Palavra de Deus revela o fato (que outros antes de nós já demonstraram), que os números na Bíblia são usados com absoluta precisão e significado. Quatro é o número do mundo. Como observação final, vão aqui algumas ilustrações do fato. Há quatro pontos cardeais — norte, sul, leste e oeste. Há quatro estações do ano — primavera, verão, outono e inverno. Há quatro elementos relacionados com nosso mundo — terra, ar, fogo e água. Houve quatro, e apenas quatro, grandes impérios mundiais — o babilônico, o medo-persa, o grego, e o romano. As Escrituras dividem os habitantes em quatro classes — “tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse 5.9). Na parábola do semeador, nosso Senhor dividiu o campo em quatro tipos de solo, e depois explicou: “o campo é o mundo”. O quarto mandamento diz respeito ao descanso dos labores terrenos. A quarta cláusula daquela que é conhecida como a oração do Senhor é “Seja feita a tua vontade na terra”. E assim poderíamos prosseguir. O número quatro é, portanto, o número da terra. Quão apropriado, então, que o Espírito Santo nos tenha dado quatro Evangelhos, nos quais é revelado o ministério terreno dAquele que veio do céu.

[…]

É evidente que cada um dos Evangelhos O observa numa relação distintaMateus o vê como Rei; Marcos, como Servo; Lucas, como Filho do Homem; e João, como Filho de Deus. Mas ao mesmo tempo que cada evangelista retrata o Senhor Jesus de um ponto de vista inteiramente diferente dos outros, ele contudo de forma alguma exclui aquilo que se encontra nos demais três. Deus sabia que onde as Escrituras seriam traduzidas para as línguas gentias, antes que a Bíblia completa ou mesmo o Novo Testamento completo fosse dado aos diferentes povos, muitas vezes apenas um dos Evangelhos seria traduzido de início, e por isso o Espírito Santo providenciou que cada Evangelho fizesse uma apresentação mais ou menos completa das múltiplas glórias do Filho. Noutras palavras, Ele fez com que cada escritor unisse em seu próprio Evangelho as várias descrições da Verdade encontradas nos outros, embora subordinasse isso àquilo que era central e peculiar a cada Evangelho.

[…]

Para finalizar, gostaríamos de chamar a atenção para uma outra característica dos Evangelhos, que muitas vezes tem sido comentada por outros autores; é a respeito do que se encontra nos versículos finais de cada um deles. Observa-se aí uma impressionante ordem crescente. No final do Evangelho de Mateus, lemos sobre a ressurreição de Cristo (28.1-8). No final do Evangelho de Marcos, lemos sobre a ascensão de Cristo (16.19). No final do Evangelho de Lucas, ouvimos da vinda do Espírito Santo (24.49). Ao passo que no final do Evangelho de João se faz referência à volta de Cristo (21.21-23)!

Que amanheça logo esse Dia, quando Ele voltará para nos receber para Si mesmo, e que nesse pequeno intervalo que ainda resta possamos estudar a Sua Palavra com maior diligência e obedecer aos seus preceitos com muito maior cuidado.

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